Para especialista, faltam critérios de avaliação para solucionar incidentes com lotes da Cervejaria Backer

Para especialista, faltam critérios de avaliação para solucionar incidentes com lotes da Cervejaria Backer

Por Diego Pinheiro 03 de fevereiro de 2020 

Em nota oficial, o Mapa informou estar atuando nas apurações administrativas para identificar as circunstâncias em que os fatos ocorreram

Cinco mortes, 32 lotes interditados, 19 casos com suspeita de intoxicação, sendo que, desses, 14 continuam sob investigação. Essa é a situação atual das investigações, por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Secretaria Nacional do Consumidor (Senacom) e Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) acerca dos eventos envolvendo o consumo de produtos da Cervejaria Backer contaminados com dietilenoglicol. Contudo, para o mestre em microbiologia de alimentos pela USP e diretor-proprietário da Moderari Consultoria, Luís Pinheiro, ainda faltam critérios de avaliação para solucionar os incidentes com lotes da cervejaria Backer.

Primeiramente, é preciso que as investigações caminhem de mãos dadas para encontrar uma causa comum. No entanto, as pesquisas feitas pelo Mapa se diferem daquelas realizadas por perícia particular contratada pela Cervejaria Backer. Enquanto uma identificou dietilenoglicol na água gelada que resfria o mosto, ou seja, a mistura inicial de ingredientes, a outra constatou não haver vestígios do líquido contaminado em quatro amostras recolhidas na fábrica da empresa.

Para entender o alvoroço entorno da contaminação das cervejas da Backer é necessário compreender o que de fato é o dietilenoglicol para elucidar o perigo de sua ingestão. De acordo com Pinheiro, esse químico possui, na indústria cervejeira, uma característica de diminuição do ponto de fusão que possibilita a sua utilização para geração de frio sem que ocorra o congelamento. “Este químico refrigera sem entrar em contato direto com a cerveja, pois é utilizado em serpentinas que refrigeram o produto em processo indireto de fabricação”, explica.

Por conter essa característica, sua ingestão está sendo associada a uma frequência de casos de pacientes que vão a óbito em decorrência daquilo que está sendo chamado de Síndrome Nefroneural, que é uma doença causada pela ingestão de produtos químicos. Neste caso específico, a doença cursa em três fases.

De acordo com a nefrologista Aline Marotta Manfredini, a primeira fase é aquela em que são constatados sintomas de náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal. A segunda já é a lesão renal que cursa com insuficiência aguda na região. Segundo Aline, nesse estágio o paciente fica sem produzir urina e necessita fazer hemodiálise. Já a terceira fase costuma surgir poucos dias após o segundo estágio e acomete o sistema nervoso, o que pode causar paralisia de nervos cranianos e até lesão nos nervos dos membros superiores e inferiores. “O dietilenoglicol é um agente que causa esse tipo de intoxicação”, conclui a nefrologista.

Perante a seriedade acerca da saúde pública, o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) informa por meio de nota oficial que “Definiu em reunião com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a interdição das marcas da cervejaria Backer com data de validade igual ou posterior a agosto de 2020. E ainda, acertou com a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacom) do Ministério da Justiça e Segurança Pública a realização dos procedimentos de intimação da empresa para recall dos produtos em que já foi constatada a contaminação, bem como dos produtos que ainda não tiveram a idoneidade e segurança para o consumo comprovadas. A medida é preventiva e vale para todo o Brasil”.

Por fim, assegura que “Segue atuando nas apurações administrativas para identificar as circunstâncias em que os fatos ocorreram e tomando as medidas necessárias para mitigar o risco apresentado pelas cervejas contaminadas”.

Diante desse cenário, a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) tomou a iniciativa de encaminhar um pedido aos órgãos reguladores solicitando a proibição das substâncias utilizadas para resfriar a produção. Nele, a entidade solicita ao Mapa e à Anvisa a elaboração de uma norma específica para a utilização de agentes anticongelantes no sistema de resfriamento de cerveja que consistam apenas em substâncias de grau alimentício.

Para o mestre em microbiologia de alimentos pela USP e diretor-proprietário da Moderari Consultoria, Luís Pinheiro, essa de fato pode ser uma das atitudes de prevenção a serem tomadas, mas destaca que os órgãos de fiscalização deveriam assumir um exercício mais eficiente nessas situações. “Estes órgãos deveriam acompanhar a evolução das demandas de prevenção de contaminações assim como conhecer as novas técnicas, inclusive aquelas de gestão, para que estejam adiantados ao conhecimento técnico da própria indústria”, sugestiona.

Visto esse levantamento, as atitudes da Cervejaria Backer no interior do seu setor de gestão de crise não foram eficazes. Por se tratar de monitoramentos e controles internos perdidos que não devem mais estar sob gerenciamento da empresa, essa espécie de gestão requer a participação de pessoas de diferentes setores e com conhecimento e poder para tomar atitudes a fim de que a crise, que possivelmente já esteja estabelecida, não se alastre. Por essa razão, existem cinco ações básicas para dar início ao gerenciamento de crise, as quais podem ser:

Casos Antigos 

Esta não é a primeira vez que o Brasil enfrenta uma situação semelhante envolvendo algum tipo de falha avaliativa em relação aos produtos alimentícios distribuídos nos pontos de venda. Entre 2011 e 2014 os alvos foram o achocolatado Toddynho e o suco à base de soja AdeS. Enquanto o primeiro teve dois episódios de contaminação, sendo um em 2011 por detergente e outro em 2014 por bactéria, o segundo foi detectado, em 2013, com a presença de soda cáustica.

Na primeira situação envolvendo o achocolatado da fabricante Pepsico, a causa foi encontrada por uma vistoria da Vigilância Sanitária, a qual constatou que a falha foi pontual e que ocorreu em um equipamento de esterilização da fabrica. Já na segunda ocorrência, a distribuição indevida de produtos bloqueados no centro de distribuição explica a contaminação por parte dos consumidores.

O caso do suco à base de soja AdeS, por sua vez, foi causado pela união de falha humana e mecânica, tendo o presidente da fabricante Unilever na época, Fernando Fernandez, afirmado que um operário não detectou o final da produção de um lote e colocou o equipamento para funcionar de novo, o que fez com que o maquinário permitisse o envase de uma solução de higienização.

A falha humana é uma das três hipóteses estudadas para explicar a contaminação dos até então 32 lotes interditados da Cervejaria Backer, os quais incluem os rótulos Capitão Senra, Pele Vermelha, Fargo 46, Backer Pilsen, Brown e Backer D2, Belorizontina, Capixaba, entre outros. As outras sugestões em estudo no momento são sabotagem e vazamento no tanque de resfriamento.

Na visão do mestre em microbiologia de alimentos pela USP e diretor-proprietário da Moderari Consultoria, Luís Pinheiro, o que esses exemplos, em união ao caso da Cervejaria Backer mostram, é que ainda não há no Brasil, de maneira mais enfática, a visualização de que um funcionário, um prestador de serviço ou até mesmo um visitante tenha a intenção de prejudicar a empresa adicionando deliberadamente qualquer elemento que possa causar problemas à saúde do consumidor. “A pergunta é: 'As empresas estão suficientemente protegidas contra a contaminação intencional?'”, questiona.

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